Casa São Francisco: lugar onde moradores de rua encontram a paz em Fortaleza

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Um dos objetivos da casa São Francisco é a ressocialização de moradores de rua e reintegração às famílias

O que leva uma pessoa ir morar nas ruas? Segundo Antonio Pereira, coordenador da Casa Francisco, Albergue para moradores de rua mantido pela Comunidade Shalom, no Centro de Fortaleza, um dos principais motivos são as drogas.

“No início de nossa casa, no começo do novo milênio,80% dos moradores acolhidos no Albergue era composto por adultos, hoje é ao contrário, esse mesmo percentual é de jovens. Na grande maioria usuários de drogas que expulsados de suas casas ou por opção escolheram as ruas para morar”, explica o coordenador que já estáhá 14 anos na casa.

A Casa Francisco funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. Tem capacidade para acolher 50 pessoas do sexo masculino em situação de rua, mas sempre esse número é superado por conta da grande demanda. “Somos o único albergue para moradores de rua em tempo integral na cidade”, conta Pereira. O quadro de funcionários da casa é composto por sete pessoasque  desempenham as  funções de  coordenador, educadores social, mestre de oficina, cozinheiro e25 voluntários, profissionais das mais diversas áreas.

Na casa é feito o serviço emergencial de fornecimento de alimentação, são cinco refeições diárias; distribuição de roupas e agasalhos. Na busca pela ressocialização e integração dos moradores às suas famílias há profissionais e voluntários que trabalham com as famílias no acompanhamento psicológico e social.

Aos moradores da Casa São Francisco é propiciado formação humana e espiritual, acompanhamento pessoal, atividades ocupacionais, momentos de meditação e celebração, grupo dos doze passos, de prevenção de recaídas e grupo de recitação do terço. A experiência de unir formação humana, espiritual e psicológica tem dado certo. “Aqui encontramos a paz completa”, define José Aragão que há seis meses está na casa e já se prepara para retornar ao seio familiar.

O serviço para a completa reintegração dos residentes da casa na sociedade é uma das metas do Albergue. “Preocupamo-nos com a reinserção no mercado de trabalho. Para isto fazemos parcerias com a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), e com instituições particulares, a fim de oferecer cursos de capacitação profissional. Oferecemos também aos moradores capacitação em duas oficinas profissionalizantes no próprio albergue (Vassoura/Rodo e Bolos/Salgados)”.

Algo em torno de 6.000 homens já passou pela Casa desde sua fundação no ano 2000. Destes, muitos foram recuperados da dependência química, reinseridos no mercado de trabalho e reintegrados ao convívio familiar em Fortaleza, em outras cidades e até em outros países.

PORTO SEGURO

Raimundo Rangel foi um dos amparados pelo Albergue. Veio do Pará e, 2003 para Fortaleza e não conseguiu se estabelecer na capital. “Quandotinha um real  almoçava em um restaurante popular no Centro da cidade, quando não tinha ficava com fome”, relata. Foi neste restaurante que ouviu falar pela primeira vez da Casa São Francisco.

À beira do despejo, Rangel encontrou abrigo no Albergue. “Foi um Porto Seguro”, descreve.  Morou dois períodos na casa. “Logo que algumas oficinas começaram a funcionar no Albergue eu me engajei em uma delas”, disse o homem que de morador passou a ser funcionário da Casa.

Mas os sonhos de Rangel eram maiores. Em 2008 ingressou no Curso de Letras da Universidade Estadual do Ceará e em questão de meses estava lecionando no cursinho oferecido pela Universidade. Em 2013concorreu com mil pessoas e foi classificado em concurso para professor de francês no estado do Amapá para onde viajou  após a formatura que aconteceu  dia 25 de janeiro.

“Rangel é um exemplo para todos nós. Sua história nos comove e nos faz ir adiante em nossa missão de acolher os moradores de rua, pessoas que trazem uma riqueza singular, o dom de si”, descreveu Antonio Pereira.

SUPERAÇÃO

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Helder Marques encontrou no albergue uma chance para sua realização profissional

A história mais recente e comovente da casa foi a de Helder Marques,um mineiro que a busca de realização profissional veio parar em Fortaleza. Traído por um sócio viu-se na rua sem abrigo e dinheiro. Um morador de rua lhe indicou o Albergue. Na casa encontrou mais que apoio, foi incentivado a estudar na biblioteca da instituição. Com força, determinação e incentivo da coordenação da casa, o jovem conseguiu o tão almejado sonho de ingressar na universidade no curso de economia.

“Essa aprovação veio confirmar não somente o meu esforço, mas o esforço das pessoas da Casa que acreditaram em mim. Foi um time jogando a favor”, definiu Helder ao receber o resultado positivo de ingresso na Universidade.

Além do público em geral, a Casa São Francisco recebe pessoas enviadas pelos Hospitais São José, Santa Casa de Misericórdia, Hospital Mental de Messejana, Hospital de Emergência José Frota, Frotinhas da Parangaba, Antonio Bezerra e Messejana, CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial da Prefeitura), entre outros. Também recebe estrangeiros sob a custódia da Policia Federal, enquanto aguardam regularização de sua situação ou extradição.

A Casa São Francisco é mantida pela doação espontânea de benfeitores que acreditam no potencial da pessoa humana, mesmo aquelas em situação de degradação. A instituição também recebe a doação de alimentos, roupas e livros.

Por Vanderlúcio Souza (texto e fotos)

 

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